ABL repudia fala de vereadora de SC que criticou clássico “Capitães da Areia”

A Academia Brasileira de Letras (ABL) se manifestou publicamente contra a declaração da vereadora Jéssica Lemonie (PL), de Itapoá (SC), que criticou o uso do livro Capitães da Areia, de Jorge Amado, em escolas do município.

Em plenário, a parlamentar afirmou que a obra seria inadequada para estudantes entre 12 e 13 anos, alegando que o conteúdo aborda temas como marginalização e estupro de forma imprópria.

Em nota oficial divulgada nesta quinta-feira (3), a ABL defendeu a importância da obra, destacando seu valor histórico e literário.

Publicado em 1937, Capitães da Areia foi traduzido para 49 idiomas e é reconhecido em mais de 50 países.

“A obra retrata a realidade de crianças em situação de rua, um tema que segue urgente e necessário. A Academia reafirma seu compromisso com a liberdade de expressão e com o valor da literatura na formação crítica dos jovens”, afirmou a entidade.

Especialistas apoiam a leitura

A professora Alcione Pauli, doutoranda em Patrimônio Cultural e Sociedade pela Univille, também defendeu o livro.

Segundo ela, Capitães da Areia continua sendo relevante em 2025 justamente por abordar temas sociais ainda presentes no cotidiano de crianças e adolescentes brasileiros.

“A obra promove reflexões sobre o abandono infantil e a negligência social, sendo um instrumento de crítica e não de apologia”, afirmou.

Reações nas redes sociais

Nas redes sociais, o advogado e escritor Pedro Pacífico também comentou a polêmica, lembrando que o livro é um clássico presente nas escolas há décadas e que não incentiva a marginalização, mas sim retrata uma realidade social.

“Ele mostra que muitas crianças ainda vivem à margem da sociedade — e não por escolha”, declarou.

O que disse a vereadora

Durante sessão na Câmara de Itapoá, Jéssica Lemonie sugeriu que a Secretaria de Educação substituísse o livro por outras obras da literatura nacional.

“O livro fala sobre racismo, romantiza o estupro e aborda relações inadequadas entre adultos e crianças. Existem outras opções que podem ser trabalhadas com os alunos”, disse.

A vereadora mencionou ainda que Capitães da Areia teria uma suposta classificação indicativa.

No entanto, livros não seguem as mesmas regras de classificação etária aplicadas a conteúdos audiovisuais, como filmes e séries.

A manifestação da ABL reforça o papel da literatura na educação crítica e democrática, destacando a necessidade de proteger obras que tratam de realidades sociais muitas vezes ignoradas.

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