quinta-feira,

28/08/2025

Joinville/SC

“Estado do Pará é um lixo”: Vereador de Joinville causa polêmica em discussão sobre migração

O vereador Mateus Batista (União Brasil), de Joinville (SC), voltou a causar polêmica após declarações feitas durante a sessão ordinária da Câmara Municipal nesta segunda-feira (25).

Em meio a um debate sobre migração, o parlamentar chamou o estado do Pará de “lixo” e associou o fluxo migratório do Norte e Nordeste ao que ele considera um processo de “favelização” em Santa Catarina.

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Na fala, o vereador afirmou que não é contra migrantes, mas responsabilizou governos estaduais pela saída de pessoas em busca de melhores condições de vida.

“Belém tem 57% da sua população favelizada. Estou falando da forma como o estado é governado. Esse fluxo migratório está sendo pressionado novamente por causa de estados mal geridos no Norte e Nordeste”, declarou, acrescentando que seu problema “não é com o migrante em si, mas com a má gestão pública e a pressão que isso gera sobre os serviços em Joinville”.

A fala gerou forte reação imediata no plenário. A vereadora Vanessa da Rosa (PT) classificou as declarações como “criminosa” e “vergonhosa para o parlamento”, destacando que os dados citados estavam incorretos.

“Além de reproduzir informações distorcidas, ele reforça uma visão preconceituosa e discriminatória, afirmando que o estado do Pará é um lixo e que a migração é um problema. Joinville foi construída por migrantes e sempre acolheu quem veio para cá em busca de oportunidades”, afirmou.

O vereador Lucas Souza também usou a tribuna para repudiar o discurso, relembrando que o crescimento econômico e social de Joinville sempre foi impulsionado por pessoas de fora.

“O que seria de Joinville sem a migração?

Cada bairro construído, cada empresa erguida, carrega a marca de quem veio de outras regiões buscar uma vida melhor aqui.”

As declarações de Batista repercutiram fora do estado.

Em Belém (PA), o vereador Pablo Farah (MDB) divulgou um vídeo nas redes sociais criticando duramente o parlamentar catarinense.

“Vai cuidar da saúde pública, vai cuidar da segurança da sua cidade, porque o que você está fazendo é sim xenofobia. Você é preconceituoso e está tentando desviar o foco dos reais problemas locais culpando quem vem de fora.”

A fala de Mateus também foi alvo de moção de repúdio aprovada pela Câmara Municipal de Belém. Entidades de direitos humanos e lideranças sociais apontaram racismo, xenofobia e incitação ao ódio contra nordestinos e nortistas.

Em resposta às críticas, Mateus reafirmou suas declarações e disse estar empenhado em avançar com um projeto que propõe a regulação da migração entre estados, elaborado em parceria com o deputado federal Kim Kataguiri (União-SP).

A proposta sugere que os municípios tenham autonomia para estabelecer critérios sobre a entrada de novos moradores.

Ao longo das últimas semanas, o vereador tem publicado vídeos com críticas ao que chama de “inchaço urbano causado por migração descontrolada”.

Em uma das postagens, ele afirma que Santa Catarina está “virando um grande favelão” e compara o estado ao Rio de Janeiro, atribuindo a suposta degradação à chegada de migrantes do Norte e Nordeste.

Os dados citados por Batista, no entanto, são distorcidos. Segundo o Censo Demográfico 2022 do IBGE, aproximadamente 18,8% da população do Pará vive em aglomerados subnormais, como favelas e ocupações irregulares — e não 57%, como alegou o parlamentar.

De fato, a Região Norte apresenta o maior índice de favelização do país (29,3%), mas a média nacional está em 8,1%.

Os dados se referem à presença dessas comunidades em áreas urbanas e não devem ser generalizados para todo o estado.

Ainda de acordo com o IBGE, o Pará é atualmente o quarto estado que mais envia migrantes para Joinville, atrás apenas de Paraná, São Paulo e Rio Grande do Sul. Muitos desses trabalhadores atuam em setores essenciais da economia local, como a construção civil, o comércio e os serviços.

Mateus Batista foi o vereador mais votado de Joinville em 2020 e tem intensificado sua atuação nas redes sociais com discursos polêmicos e conservadores. Após a repercussão negativa, ele afirmou que vem recebendo ameaças e registrou boletim de ocorrência na delegacia da cidade.

A polêmica reacendeu o debate sobre migração, preconceito e desigualdade regional no Brasil, além de colocar em xeque a responsabilidade de representantes públicos na condução de discursos que atingem milhões de brasileiros.

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