Congresso restabelece obrigatoriedade do exame toxicológico para primeira habilitação nas categorias A e B

O Congresso Nacional derrubou, nesta quinta-feira (4), dois vetos presidenciais e retomou dispositivos da Lei 15.153/25 que alteram o Código de Trânsito Brasileiro (CTB).

Com a decisão, volta a ser obrigatória a apresentação de exame toxicológico para quem busca a primeira habilitação nas categorias A e B, que incluem motociclistas e motoristas de automóveis.

A medida passa a valer assim que for publicada no Diário Oficial da União.

O placar foi amplo nas duas Casas: 421 votos a 10 na Câmara e 72 votos favoráveis no Senado, sem nenhum voto contrário.

Mudança ocorre em meio a tensão entre Executivo e Legislativo

A decisão do Congresso acontece na mesma semana em que o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) prepara a publicação da Resolução 1.020/25, que vai reformular por completo o processo de formação de condutores.

Entre as mudanças anunciadas pelo governo está a proposta de reduzir custos e desburocratizar o acesso à CNH, retirando a obrigatoriedade das aulas em autoescolas.

Para especialistas, esse cenário expõe diferenças profundas entre Executivo e Legislativo em relação à política de habilitação.

O estudioso de legislação de trânsito Julyver Modesto afirma que o momento configura “uma das semanas mais intensas da legislação de trânsito”, dada a quantidade de propostas, reações e disputas envolvendo o tema.

O que passa a valer

Com a derrubada do veto ao §10 do art. 148-A do CTB, volta a ser exigida:

  • Comprovação de resultado negativo no exame toxicológico para obter a permissão para dirigir nas categorias A e B.

  • Obrigatoriedade apenas na primeira habilitação, sem exigência de renovação periódica para essas categorias.

  • Motoristas das categorias C, D e E continuam sujeitos às renovações periódicas do exame.

A mudança impacta diretamente o funcionamento de Detrans, autoescolas e laboratórios, que precisarão adequar sistemas e fluxo de atendimento.

Permissão para postos de coleta em clínicas médicas

O Congresso também restabeleceu o §11 da lei, que permite que clínicas credenciadas para exames médicos de aptidão física e mental tenham postos de coleta para o toxicológico.

O governo havia vetado esse dispositivo alegando riscos à cadeia de custódia, possibilidade de vendas casadas e prejuízo à credibilidade dos exames.

Com o veto derrubado, caberá à Senatran regulamentar a operação para garantir segurança e rastreabilidade das amostras.

Por que o governo havia vetado?

O Executivo argumentou que a exigência do exame toxicológico na primeira habilitação:

  • tornaria o processo mais caro;

  • poderia afastar candidatos de baixa renda;

  • ampliaria o risco de pessoas dirigirem sem habilitação.

No entanto, especialistas apontam que parte dessa justificativa enfraqueceu após o próprio governo defender flexibilizações e alternativas mais baratas à formação tradicional.

Como é feito o exame toxicológico

Segundo o Dr. Alex Galoro, da Abramed, a coleta do material deve ocorrer em postos específicos e treinados.

O exame utiliza cabelos ou pelos corporais, com janela de detecção de até 90 dias, podendo chegar a 180 dias em algumas regiões do corpo.

O processo inclui:

  1. Coleta de amostras em regiões como braços, pernas, tórax, axilas ou púbis.

  2. Lacração dos envelopes A e B na presença do doador.

  3. Análise inicial do envelope A, com lavagem, pesagem, extração e processamento.

  4. Liberação do laudo em caso de resultado negativo.

  5. Em caso de positivo, a amostra passa por um exame confirmatório antes da emissão do resultado.

  6. O envelope B só é aberto para contraprova quando o doador contesta o resultado ou por determinação judicial.

Antes da decisão do Congresso, o exame era exigido apenas para as categorias profissionais C, D e E.

Ambiente político movimentado

A derrubada dos vetos se soma a outros movimentos recentes na área de trânsito, como:

  • criação de uma comissão especial na Câmara para debater o novo modelo de formação de condutores;

  • avanço de projetos que reforçam a vinculação obrigatória de instrutores às autoescolas;

  • apresentação de proposta para sustar os efeitos da nova resolução do Contran, que ainda não foi publicada;

  • reuniões ministeriais discutindo medidas como o fim do exame psicológico e renovação automática da CNH para bons motoristas.

Para Julyver Modesto, todas essas ações demonstram um conflito institucional crescente.

“O tabuleiro está em movimento e exige atenção máxima de quem atua na área.”

O que esperar daqui para frente

Com a derrubada dos vetos:

  • Os dispositivos serão promulgados e integrados ao CTB;

  • Os Detrans terão de ajustar imediatamente seus sistemas;

  • A Senatran regulamentará os postos de coleta em clínicas;

  • O governo deve apresentar novas propostas sobre o tema.

Segundo especialistas, é provável que o Executivo tente novamente modificar ou revisar o exame toxicológico em novos projetos.

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