Debate público questiona queima de resíduos em Joinville e impactos da nova usina

Uma audiência pública realizada nesta terça-feira (4) pela Comissão de Cidadania e Direitos Humanos discutiu os rumos da reciclagem no município, com foco na recém-inaugurada Unidade de Recuperação de Energia (URE), que entrou em operação há pouco mais de um mês.

Representantes de entidades ambientais e de recicladores criticaram a queima de resíduos, argumentando que a prática contraria a hierarquia de prioridades da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), ameaça a cadeia de reciclagem e compromete a renda dos trabalhadores do setor.

A presidente da comissão e proponente do debate, vereadora Vanessa da Rosa (PT), lamentou a ausência de vereadores e da empresa Ambiental, responsável pela coleta de lixo em Joinville.

Ela reforçou que a URE foi instalada sem um debate público e recordou projetos de sua autoria, baseados na PNRS, que teriam sido rejeitados na Câmara por razões políticas, e não técnicas.

Gustavo Ritzmann, do grupo Lixo Zero, afirmou que a entidade encaminhou uma denúncia ao Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) para investigar possíveis irregularidades na implantação da incineradora.

Segundo ele, o contrato de R$ 110 milhões com a Ambiental contraria legislações que proíbem a queima de resíduos urbanos.

O coletivo solicita que Ministério Público e Câmara de Vereadores verifiquem a decisão e exijam investimentos em educação ambiental, compostagem e inclusão dos catadores.

Dorival dos Santos, do Movimento Nacional dos Catadores, classificou a URE como um “monstro” que ameaça a renda de milhares de famílias e alertou para riscos ambientais e à saúde pública, citando experiências europeias que abandonaram a incineração devido à poluição e à associação com câncer.

O deputado estadual Marquito (PSOL) também criticou a tecnologia da incineração, defendendo que Joinville invista em alternativas sustentáveis, como ampliação da coleta seletiva, compostagem e apoio a cooperativas, que geram emprego e reduzem impactos ambientais.

O engenheiro agrônomo Fábio Welling acrescentou que a URE não destrói apenas resíduos, mas também esforços educativos e ambientais construídos ao longo dos anos.

Ele sugeriu o aproveitamento do metano do aterro sanitário para geração de energia, evitando a queima e preservando materiais recicláveis e recursos naturais.

Entre os participantes da audiência, o reciclador Reginildo Silva destacou a importância da conscientização ambiental e da separação correta de resíduos, citando experiências de sucesso em outras regiões.

Já Otanir Mattiola, coordenador de hortas comunitárias, lamentou a falta de programas públicos de compostagem e denunciou o abandono de equipamentos que poderiam ser usados em hortas locais.

Ele reforçou que, caso a URE avance, a energia gerada deveria beneficiar a população e não apenas interesses econômicos.

Em resposta, a engenheira sanitarista da Prefeitura, Cristina da Costa, ressaltou as ações municipais voltadas à gestão de resíduos, citando a ampliação das cooperativas cadastradas de seis para dez, com apoio técnico do Projeto Pró-Catadores, em parceria com Sebrae e Ministério do Meio Ambiente.

Ela também reforçou o compromisso da Prefeitura com a educação ambiental e a participação da comunidade na reciclagem.

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