Para enfrentar o déficit financeiro que se agravou nos últimos anos, os Correios estudam contratar empréstimos de até R$ 20 bilhões em operação articulada pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A medida busca garantir fôlego ao caixa da estatal até 2026.
O prejuízo acumulado pelos Correios voltou a crescer de forma expressiva em 2024.
Após registrar resultado negativo de R$ 597 milhões em 2023, a empresa fechou o ano seguinte com perdas de R$ 2,6 bilhões, um valor aproximadamente quatro vezes maior.
Apesar de anos recentes de estabilidade, os problemas financeiros da estatal remontam ao período entre 2013 e 2016, quando a companhia já enfrentava forte turbulência.
Especialistas apontam que o cenário atual é resultado de uma combinação entre má gestão histórica e mudanças tecnológicas, que ampliaram a concorrência e elevaram as exigências no setor de logística.
“Os Correios enfrentam uma mudança estrutural que vem de longa data”, afirma a economista Elena Landau. Já Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, destaca que parte do problema se deve a decisões administrativas equivocadas ao longo dos anos.
Impacto da taxação de compras internacionais
Em nota, os Correios atribuem o rombo de 2024 “exclusivamente” aos efeitos da taxação de 20% sobre compras internacionais de até US$ 50, sancionada em junho. Conhecida como “taxa das blusinhas”, a medida reduziu o volume de importações de baixo valor e, consequentemente, diminuiu o número de entregas realizadas pela estatal.
Especialistas, porém, discordam dessa explicação. Eles afirmam que outras empresas que atuam no mesmo segmento, como marketplaces privados, não registraram perdas semelhantes.
Para Landau, não é possível “colocar toda a culpa na taxa”, já que a estatal enfrenta problemas de eficiência interna.
Tentativas de recuperação
Diante do agravamento da crise, Lula se reuniu no início do ano com presidentes de estatais para tratar da governança das companhias. Agora, governo e Conselho de Administração dos Correios avaliam uma operação de financiamento que inclui empréstimos junto a bancos públicos e privados, com garantia do Tesouro Nacional.
A operação prevê R$ 10 bilhões em crédito para 2025 e outros R$ 10 bilhões para 2026, conforme apurou a CNN.
Além disso, a nova gestão — liderada desde setembro por Emmanoel Schmidt Rondon, funcionário de carreira do Banco do Brasil — já anunciou medidas como venda de imóveis, programa de demissão voluntária, lançamento de marketplace em parceria com a Infracommerce e negociações com o New Development Bank (NDB) para captar R$ 3,8 bilhões.
Segundo a estatal, o conjunto de ações pode gerar economia de até R$ 1,5 bilhão em 2025. No entanto, fontes do governo reconhecem que as iniciativas foram implementadas tardiamente diante da deterioração das contas.
Para alguns analistas, a solução definitiva pode estar na retomada do debate sobre a privatização.
“Os Correios vão continuar drenando recursos do governo. Seria importante acelerar o processo de privatização para encerrar esse problema”, afirma Sérgio Vale.










